Relato de parto por Louise Telini
Quando tinha 15 anos tive um tumor no ovário, operei com a videolaparoscopia, o médico preservou
o meu ovário, e desde então tenho um cisto dentro do ovário, um cisto grande. Meu
primeiro aborto aconteceu em 2008, fiz exame de farmácia deu negativo e no de
sangue positivo. No transvaginal eu estava de 6 semanas, tudo certo, mas ainda
não dava pra ouvir o coração, voltei com 8 semanas, quando cheguei o médico
informou que o bebê estava sem batimentos e que ele tinha morrido, não explicou
direito o porquê, me deu um remédio e disse que não precisaria fazer curetagem
porque ele desceria naturalmente, após 7 dias, tive um grande sangramento, o
aborto. Depois de um tempo continuei tomando anticoncepcional e não engravidei,
terminei meu antigo relacionamento nesse tempo.
Comecei a namorar outra pessoa e quando estava já namorando
há um ano e pouco, minha menstruação atrasou por 15 dias e resolvi fazer um
exame de sangue, deu positivo, numa quinta-feira. No sábado minha menstruação
desceu muito, e na segunda repeti o exame de sangue e não tinha mais nada.
Em abril de 2013, descobri novamente que estava grávida, no exame de farmácia deu negativo, com 16 dias de atraso, fiz o exame de sangue e deu positivo. Desde o começo tive muitos problemas, sangramentos, toda semana eu estava na maternidade. E nessas idas a maternidade, chegava lá e estava tudo bem, colo do útero fechado, tudo bem com o bebê, sempre pediam ultrassom. O mesmo médico que me operou com 15 anos estava acompanhando minha gestação, então ele me disse quando eu estava com 15 semanas: ‘eu não sou médico de alto risco, mas pelo seu histórico, eu tenho quase certeza que você tem TROMBOFILIA, e é uma doença que causa a coagulação do sangue da mãe, ela entope o cordão umbilical e falta nutrientes para o bebê, pode também, dar uma trombose e você morrer, pode dar uma embolia pulmonar e você morrer, a trombofilia é uma doença muito séria que você tem que tratar, tem riscos tanto pra mãe, quanto para o bebê!’ Sai de lá em estado de choque, chorando, junto com meu namorado, sem chão! E meu médico passou vários exames e me disse que não poderia acompanhar mais minha gestação, mas se deixou a minha disposição, me disse pra ir atrás de um médico especialista. E então começou outra luta, porque meu plano não tinha muitos médicos especialistas que atendesse! E particular era muito caro! Encontrei péssimos médicos pelo caminho, que me chamaram de gorda, que disseram que não iriam se responsabilizar pela minha morte e da minha filha, me disseram que trombofilia não era nada... Até que minha sogra pagou para que eu fosse em um particular, já que eu estava completamente perdida e os médicos que eu havia ido não tinham me ajudado em nada.
Então, quando fui nesse médico, ele me atendeu muito bem,
conversou, me explicou da doença, me passou 8 tipos de remédios, vitaminas, A.S,
remédio de pressão, injeções na barriga, clexane, todos os dias eu tomava, às
20h! Disse que o risco era muito grande e que eu teria que cuidar muito!
Ficamos tristes, porque quando você engravida, você não quer que tenha todo
esse risco, você quer que tudo corra bem até o final. Minha sogra foi com a
gente no médico e saiu de lá bastante triste também. Ai que me toquei que o que
estava acontecendo comigo era muito sério.
Além de tudo, o tratamento é muito caro, a mãe que tem
trombofilia, se não tiver recursos ou condições financeiras, infelizmente passa
por muita coisa e pode acontecer o pior! Tem muita mulher que não sabe que tem
trombofilia que acaba morrendo na hora do parto, porque o médico não soube
pedir os exames e a mãe acabou não se cuidando... Existem muitos casos no
Brasil inteiro!
Minha cunhada é advogada e entrou com uma ação contra o
estado para que eu conseguisse as injeções, porque cada injeção era, se não me
engano, R$15,00 e eu tinha que tomar uma por dia, com todos os remédios dava
cerca de R$800,00 por mês. Ganhamos a ação e enquanto isso, graças a Deus, meus
sogros estavam pagando tudo pra mim. Eu tive quem me ajudasse. O estado começou
a liberar os remédios.
E continuou a luta, ultrassom eu fazia toda semana, a
barriga ficava roxa, mas eu fazia tudo com muito amor.
Minha pressão começou a subir muito, durante a gestação ela
ficava entre 16 ou 17, que é muito alta para uma grávida, então entrei numa
dieta com muita restrição. Numa sexta-feira eu fui comer peixe, porque estava
com muita vontade e fiz meu namorado me levar. Nessa madrugada de sexta pra
sábado acordei vomitando e passando muito mal. Acordei meu namorado e pedi que
ele me levasse para o hospital, quando cheguei na maternidade não conseguia nem
falar, com a pressão muito alta, fui atendida por um médico maravilhoso, que já
me medicou e minha pressão baixou, foi até mim depois que eu já estava bem e me
disse... ‘Louise, dessa semana essa gestação não passa, a sua pressão está
subindo muito e com isso o líquido amniótico está diminuindo e como você tem
trombofilia, se seu líquido secar sua filha vai entrar em sofrimento fetal. E
de cinco mutações que tem a trombofilia você tem 3, mais da metade, então sua
gestação está correndo um risco muito grande. Eu vou te passar duas injeções de
corticoide hoje e duas amanhã (domingo), a criança tem que nascer depois de 48h
da última dose, ou seja, na terça-feira.’ Tomei as injeções e fiquei bem
inchada por conta do corticoide. Na segunda-feira amanheci com sangramento,
liguei para o meu médico e ele falou que era pra fazer um ultrassom. Quando
cheguei na clínica para fazer o exame, o médico de lá me assustou, disse que
meu líquido estava secando e que minha filha estava em sofrimento. Liguei
novamente para o meu médico, dessa vez chorando e ele me disse pra ir pro consultório
dele. Chegando lá, ele fez outro ultrassom e me informou que o líquido
aguentaria mais uma semana e que faria muita diferença para o bebê essa semana a
mais. Minha pressão estava altíssima, chegando em 18, ele dobrou meu remédio de
pressão e me colocou em repouso absoluto, sem me mexer e tomando muito líquido.
E me disse também que iria para um congresso em São Paulo, nessa semana ela não
pode nascer. Fui para casa e na madrugada de segunda para terça comecei a
passar muito mal, eu estava em trabalho de parto e Deus é tão perfeito, que deu
o tempo do corticoide fazer efeito, como o médico de plantão tinha me dito. Às
5h da manhã as dores começaram, mas eu ainda não sabia que estava em trabalho
de parto, acordei vomitando muito e com muita dor nas costas, chamava meu
namorado e ele dizia que eu estava passando mal do estômago. Eu levantava, ia
até o chuveiro, ficava debaixo da água morna e passava um pouco da dor, uma dor
insuportável. Meu namorado foi trabalhar e eu logo depois chamei minha mãe,
pois não aguentava de dor. Ligamos para o meu médico que estava viajando e ele
me disse que tinha deixado uma médica ciente do meu caso e que era pra eu ir
pra maternidade. Fomos até lá, cheguei gritando, como uma louca, de cócoras no
chão da recepção, a médica fez o toque e me disse que eu estava em trabalho de
parto e me disse que eu não poderia, por ter a trombofilia, se eu tivesse parto
normal, eu morreria, eu tomava anticoagulante e teria uma hemorragia interna
que não conseguiriam conter. Ai me disse que iria ter que fazer a cesárea
naquele momento e me encaminhou para outro hospital que tinham UTI neonatal e
uma UTI para mim, pois na maternidade não tinha disponível, me informou que eu
estava em síndrome de HELP e eu estava correndo um grande risco. Liguei pro meu
namorado e pedi para ele ir pro hospital. Minha mãe me deixou com a minha irmã
e foi até minha casa preparar as minhas coisas e as da bebê para levar até o
hospital.
Foi o pior dia da minha vida! Eu vomitava espuma, era
branca. E a enfermeira pegou a cadeira de rodas e eu fui vomitando pelo
corredor do hospital, ela colocou o medicamento e me internou 11:30h, a médica
chegou logo depois, e o que mais doía é que eu sabia que pela medicina eles
salvariam a mãe e não o bebê se acontecesse algo de errado no parto, meu médico
ligou para a médica que estava me atendendo e pediu para que ela tirasse a bebê
urgentemente de dentro de mim. Cheguei no centro cirúrgico minha pressão estava
em 23. A doutora chegou e pediu para que estivesse calma e colocou meu médico
no viva-voz para que ele a ajudasse, pois ela não era especialista, ele era. Eu
estava de 32 semanas e 4 dias, ele disse, vamos tirar o bebê, não sabemos se
ela vai nascer viva ou chorando. Mas eu sabia que ela estava bem, eu sentia que
ela estava mexendo muito. Eu estava em pânico, chorando muito, fazendo muita
oração, fui para a sala de parto e começaram a fazer a cesárea, era por volta
de 12:30h e a Lívia nasceu 13:06, gritando, chorando... Mas não a vi direito,
passaram correndo com ela, comecei a ter hemorragia, minha pressão muito alta, não
baixava, minhas plaquetas baixaram, o mínimo aceitável eram 100, as minhas
chegaram a 35, fiquei até as 18h na sala de cirurgia, e então fui pro quarto,
tinha uma mãe com um bebê e tiveram que tirá-los, pois eu estava desesperada. Não
tinha nenhuma notícia da minha filha. Fiquei na sonda, monitorada, porque na
quarta-feira minha pressão chegou a 26. Consegui sair da sonda na sexta-feira e
fui caminhando até na UTI neonatal e a vi. Depois de 5 dias me deram alta,
passei antes na UTI, vi minha filha e fui para casa. Chorei muito em casa,
fiquei o dia todo deitada, um dia horrível, não queria tê-la deixado lá, mas
era necessário. Como minhas plaquetas estavam baixas, não podia tomar nenhum
tipo de antibiótico ou anti-inflamatório, sentia muita dor no corte. De
madrugada eu senti alguma coisa molhada na minha cirurgia, acordei meu namorado
as 3h e ele colocou a mão, me disse que estava vazando, mas achava que não era
nada, pediu para eu ficar deitada e não fazer esforço, mas ardia muito. Pela
manhã, acordei e fui ao banheiro, com muita dor, fui tomar banho, quando fiquei
em pé abriu um ponto e começou a vazar pus e sangue, fiquei tonta, chamei meu
namorado, voltei pro hospital, estava com infecção hospitalar, fiquei 15 dias
internada, isolada numa área para o tratamento, foram longos dias no hospital,
eu internada por infecção e minha filha para ganhar peso, eu ia todos os dias
vê-la, ela mamava por sonda e depois foi para o copinho, ai coloquei ela no
peito e ela mamou, foi um avanço muito grande. Ela recebeu alta um dia depois
de mim. Às vezes eu penso que peguei essa infecção para ficar perto dela,
porque todo dia que eu ia lá vê-la era uma evolução a mais. Deus não faz nada
por acaso.
Hoje minha filha está comigo, saudável, já tem o peso ideal
para a idade dela, a altura ideal. Ela nasceu com 1.480kg e 40cm, hoje ela tem
8.500kg, vai fazer um aninho dia 5 de novembro e é alegria da nossa vida. Todos
os dias eu tinha medo de dormir e não acordar, por tudo que eu passei, mas agradeço
a Deus pela força que Ele me deu e ao meu namorado que esteve do meu lado todos
esses dias, que não arredou o pé, foi homem de verdade. Às vezes algumas
pessoas acham que trombofilia não é nada, help não é nada, mas hoje eu não posso
mais ter filhos, a Livia é minha única e amada filha, por conta de tudo que
aconteceu comigo. Não posso reclamar, pelo menos Deus deixou que ela vivesse
aqui, junto comigo.
Esse foi o relato de uma grande amiga minha que hoje tem a
Livia, a gordinha mais linda do mundo!
As pessoas não tem acesso ao que é trombofilia, acho que as
informações que tem nesse texto ajudam a explicar muita coisa, não é?
Se você também quer seu relato aqui, fale comigo, ou mande
no meu email gabrielapiovesan@hotmail.com
Beijos aos que seguem!
Lívia quando tinha acabado de sair do hospital
Lívia recentemente
Nossa uma linda história, isso é amor de mãe e também a prova de que Deus nunca da um fardo maior do que podemos carregar!!! Parabéns a linda família.
ResponderExcluirUma história escrita pelo dedo de Deus! Louvo ah vida de cada um de voces! E acredite Louise Deus tem muitas e muitas bençãos vindas diretamente do trono dele para entregar para voces!!! Jesus te ama muito e cuida de ti! Parabéns a Gabriela que é linda, uma guerreira e que tem nos dado o privilégio com seu blog de conhecermos as pessoas mais afundo! Beijos! Amo vocês! Fiquem com Deus princesas !!!
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