quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Você sabe o que é TROMBOFILIA?

Relato de parto por Louise Telini


Quando tinha 15 anos tive um tumor no ovário, operei com a videolaparoscopia, o médico preservou o meu ovário, e desde então tenho um cisto dentro do ovário, um cisto grande. Meu primeiro aborto aconteceu em 2008, fiz exame de farmácia deu negativo e no de sangue positivo. No transvaginal eu estava de 6 semanas, tudo certo, mas ainda não dava pra ouvir o coração, voltei com 8 semanas, quando cheguei o médico informou que o bebê estava sem batimentos e que ele tinha morrido, não explicou direito o porquê, me deu um remédio e disse que não precisaria fazer curetagem porque ele desceria naturalmente, após 7 dias, tive um grande sangramento, o aborto. Depois de um tempo continuei tomando anticoncepcional e não engravidei, terminei meu antigo relacionamento nesse tempo.
Comecei a namorar outra pessoa e quando estava já namorando há um ano e pouco, minha menstruação atrasou por 15 dias e resolvi fazer um exame de sangue, deu positivo, numa quinta-feira. No sábado minha menstruação desceu muito, e na segunda repeti o exame de sangue e não tinha mais nada.

Em abril de 2013, descobri novamente que estava grávida, no exame de farmácia deu negativo, com 16 dias de atraso, fiz o exame de sangue e deu positivo. Desde o começo tive muitos problemas, sangramentos, toda semana eu estava na maternidade. E nessas idas a maternidade, chegava lá e estava tudo bem, colo do útero fechado, tudo bem com o bebê, sempre pediam ultrassom. O mesmo médico que me operou com 15 anos estava acompanhando minha gestação, então ele me disse quando eu estava com 15 semanas: ‘eu não sou médico de alto risco, mas pelo seu histórico, eu tenho quase certeza que você tem TROMBOFILIA, e é uma doença que causa a coagulação do sangue da mãe, ela entope o cordão umbilical e falta nutrientes para o bebê, pode também, dar uma trombose e você morrer, pode dar uma embolia pulmonar e você morrer, a trombofilia é uma doença muito séria que você tem que tratar, tem riscos tanto pra mãe, quanto para o bebê!’ Sai de lá em estado de choque, chorando, junto com meu namorado, sem chão! E meu médico passou vários exames e me disse que não poderia acompanhar mais minha gestação, mas se deixou a minha disposição, me disse pra ir atrás de um médico especialista. E então começou outra luta, porque meu plano não tinha muitos médicos especialistas que atendesse! E particular era muito caro! Encontrei péssimos médicos pelo caminho, que me chamaram de gorda, que disseram que não iriam se responsabilizar pela minha morte e da minha filha, me disseram que trombofilia não era nada... Até que minha sogra pagou para que eu fosse em um particular, já que eu estava completamente perdida e os médicos que eu havia ido não tinham me ajudado em nada.
Então, quando fui nesse médico, ele me atendeu muito bem, conversou, me explicou da doença, me passou 8 tipos de remédios, vitaminas, A.S, remédio de pressão, injeções na barriga, clexane, todos os dias eu tomava, às 20h! Disse que o risco era muito grande e que eu teria que cuidar muito! Ficamos tristes, porque quando você engravida, você não quer que tenha todo esse risco, você quer que tudo corra bem até o final. Minha sogra foi com a gente no médico e saiu de lá bastante triste também. Ai que me toquei que o que estava acontecendo comigo era muito sério.
Além de tudo, o tratamento é muito caro, a mãe que tem trombofilia, se não tiver recursos ou condições financeiras, infelizmente passa por muita coisa e pode acontecer o pior! Tem muita mulher que não sabe que tem trombofilia que acaba morrendo na hora do parto, porque o médico não soube pedir os exames e a mãe acabou não se cuidando... Existem muitos casos no Brasil inteiro!
Minha cunhada é advogada e entrou com uma ação contra o estado para que eu conseguisse as injeções, porque cada injeção era, se não me engano, R$15,00 e eu tinha que tomar uma por dia, com todos os remédios dava cerca de R$800,00 por mês. Ganhamos a ação e enquanto isso, graças a Deus, meus sogros estavam pagando tudo pra mim. Eu tive quem me ajudasse. O estado começou a liberar os remédios.
E continuou a luta, ultrassom eu fazia toda semana, a barriga ficava roxa, mas eu fazia tudo com muito amor.
Minha pressão começou a subir muito, durante a gestação ela ficava entre 16 ou 17, que é muito alta para uma grávida, então entrei numa dieta com muita restrição. Numa sexta-feira eu fui comer peixe, porque estava com muita vontade e fiz meu namorado me levar. Nessa madrugada de sexta pra sábado acordei vomitando e passando muito mal. Acordei meu namorado e pedi que ele me levasse para o hospital, quando cheguei na maternidade não conseguia nem falar, com a pressão muito alta, fui atendida por um médico maravilhoso, que já me medicou e minha pressão baixou, foi até mim depois que eu já estava bem e me disse... ‘Louise, dessa semana essa gestação não passa, a sua pressão está subindo muito e com isso o líquido amniótico está diminuindo e como você tem trombofilia, se seu líquido secar sua filha vai entrar em sofrimento fetal. E de cinco mutações que tem a trombofilia você tem 3, mais da metade, então sua gestação está correndo um risco muito grande. Eu vou te passar duas injeções de corticoide hoje e duas amanhã (domingo), a criança tem que nascer depois de 48h da última dose, ou seja, na terça-feira.’ Tomei as injeções e fiquei bem inchada por conta do corticoide. Na segunda-feira amanheci com sangramento, liguei para o meu médico e ele falou que era pra fazer um ultrassom. Quando cheguei na clínica para fazer o exame, o médico de lá me assustou, disse que meu líquido estava secando e que minha filha estava em sofrimento. Liguei novamente para o meu médico, dessa vez chorando e ele me disse pra ir pro consultório dele. Chegando lá, ele fez outro ultrassom e me informou que o líquido aguentaria mais uma semana e que faria muita diferença para o bebê essa semana a mais. Minha pressão estava altíssima, chegando em 18, ele dobrou meu remédio de pressão e me colocou em repouso absoluto, sem me mexer e tomando muito líquido. E me disse também que iria para um congresso em São Paulo, nessa semana ela não pode nascer. Fui para casa e na madrugada de segunda para terça comecei a passar muito mal, eu estava em trabalho de parto e Deus é tão perfeito, que deu o tempo do corticoide fazer efeito, como o médico de plantão tinha me dito. Às 5h da manhã as dores começaram, mas eu ainda não sabia que estava em trabalho de parto, acordei vomitando muito e com muita dor nas costas, chamava meu namorado e ele dizia que eu estava passando mal do estômago. Eu levantava, ia até o chuveiro, ficava debaixo da água morna e passava um pouco da dor, uma dor insuportável. Meu namorado foi trabalhar e eu logo depois chamei minha mãe, pois não aguentava de dor. Ligamos para o meu médico que estava viajando e ele me disse que tinha deixado uma médica ciente do meu caso e que era pra eu ir pra maternidade. Fomos até lá, cheguei gritando, como uma louca, de cócoras no chão da recepção, a médica fez o toque e me disse que eu estava em trabalho de parto e me disse que eu não poderia, por ter a trombofilia, se eu tivesse parto normal, eu morreria, eu tomava anticoagulante e teria uma hemorragia interna que não conseguiriam conter. Ai me disse que iria ter que fazer a cesárea naquele momento e me encaminhou para outro hospital que tinham UTI neonatal e uma UTI para mim, pois na maternidade não tinha disponível, me informou que eu estava em síndrome de HELP e eu estava correndo um grande risco. Liguei pro meu namorado e pedi para ele ir pro hospital. Minha mãe me deixou com a minha irmã e foi até minha casa preparar as minhas coisas e as da bebê para levar até o hospital.
Foi o pior dia da minha vida! Eu vomitava espuma, era branca. E a enfermeira pegou a cadeira de rodas e eu fui vomitando pelo corredor do hospital, ela colocou o medicamento e me internou 11:30h, a médica chegou logo depois, e o que mais doía é que eu sabia que pela medicina eles salvariam a mãe e não o bebê se acontecesse algo de errado no parto, meu médico ligou para a médica que estava me atendendo e pediu para que ela tirasse a bebê urgentemente de dentro de mim. Cheguei no centro cirúrgico minha pressão estava em 23. A doutora chegou e pediu para que estivesse calma e colocou meu médico no viva-voz para que ele a ajudasse, pois ela não era especialista, ele era. Eu estava de 32 semanas e 4 dias, ele disse, vamos tirar o bebê, não sabemos se ela vai nascer viva ou chorando. Mas eu sabia que ela estava bem, eu sentia que ela estava mexendo muito. Eu estava em pânico, chorando muito, fazendo muita oração, fui para a sala de parto e começaram a fazer a cesárea, era por volta de 12:30h e a Lívia nasceu 13:06, gritando, chorando... Mas não a vi direito, passaram correndo com ela, comecei a ter hemorragia, minha pressão muito alta, não baixava, minhas plaquetas baixaram, o mínimo aceitável eram 100, as minhas chegaram a 35, fiquei até as 18h na sala de cirurgia, e então fui pro quarto, tinha uma mãe com um bebê e tiveram que tirá-los, pois eu estava desesperada. Não tinha nenhuma notícia da minha filha. Fiquei na sonda, monitorada, porque na quarta-feira minha pressão chegou a 26. Consegui sair da sonda na sexta-feira e fui caminhando até na UTI neonatal e a vi. Depois de 5 dias me deram alta, passei antes na UTI, vi minha filha e fui para casa. Chorei muito em casa, fiquei o dia todo deitada, um dia horrível, não queria tê-la deixado lá, mas era necessário. Como minhas plaquetas estavam baixas, não podia tomar nenhum tipo de antibiótico ou anti-inflamatório, sentia muita dor no corte. De madrugada eu senti alguma coisa molhada na minha cirurgia, acordei meu namorado as 3h e ele colocou a mão, me disse que estava vazando, mas achava que não era nada, pediu para eu ficar deitada e não fazer esforço, mas ardia muito. Pela manhã, acordei e fui ao banheiro, com muita dor, fui tomar banho, quando fiquei em pé abriu um ponto e começou a vazar pus e sangue, fiquei tonta, chamei meu namorado, voltei pro hospital, estava com infecção hospitalar, fiquei 15 dias internada, isolada numa área para o tratamento, foram longos dias no hospital, eu internada por infecção e minha filha para ganhar peso, eu ia todos os dias vê-la, ela mamava por sonda e depois foi para o copinho, ai coloquei ela no peito e ela mamou, foi um avanço muito grande. Ela recebeu alta um dia depois de mim. Às vezes eu penso que peguei essa infecção para ficar perto dela, porque todo dia que eu ia lá vê-la era uma evolução a mais. Deus não faz nada por acaso.
Hoje minha filha está comigo, saudável, já tem o peso ideal para a idade dela, a altura ideal. Ela nasceu com 1.480kg e 40cm, hoje ela tem 8.500kg, vai fazer um aninho dia 5 de novembro e é alegria da nossa vida. Todos os dias eu tinha medo de dormir e não acordar, por tudo que eu passei, mas agradeço a Deus pela força que Ele me deu e ao meu namorado que esteve do meu lado todos esses dias, que não arredou o pé, foi homem de verdade. Às vezes algumas pessoas acham que trombofilia não é nada, help não é nada, mas hoje eu não posso mais ter filhos, a Livia é minha única e amada filha, por conta de tudo que aconteceu comigo. Não posso reclamar, pelo menos Deus deixou que ela vivesse aqui, junto comigo.  

Esse foi o relato de uma grande amiga minha que hoje tem a Livia, a gordinha mais linda do mundo!
As pessoas não tem acesso ao que é trombofilia, acho que as informações que tem nesse texto ajudam a explicar muita coisa, não é?
Se você também quer seu relato aqui, fale comigo, ou mande no meu email gabrielapiovesan@hotmail.com

Beijos aos que seguem!


Lívia quando tinha acabado de sair do hospital

Lívia recentemente


2 comentários:

  1. Nossa uma linda história, isso é amor de mãe e também a prova de que Deus nunca da um fardo maior do que podemos carregar!!! Parabéns a linda família.

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  2. Uma história escrita pelo dedo de Deus! Louvo ah vida de cada um de voces! E acredite Louise Deus tem muitas e muitas bençãos vindas diretamente do trono dele para entregar para voces!!! Jesus te ama muito e cuida de ti! Parabéns a Gabriela que é linda, uma guerreira e que tem nos dado o privilégio com seu blog de conhecermos as pessoas mais afundo! Beijos! Amo vocês! Fiquem com Deus princesas !!!

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